Vivemos em uma sociedade que, historicamente, tratou o erotismo com repressão, culpa e silêncio. A sexualidade foi enquadrada dentro de normas rígidas: o que é certo, o que é permitido, o que é moral. Mas quando uma pessoa se reconecta com seu erotismo autêntico, ela começa a sair desse controle. Ela deixa de obedecer aos padrões externos para ouvir o que é verdadeiro dentro de si.
Erotismo: mais do que sexo
Erotismo não é sinônimo de sexo ou de ato sexual. Erotismo é a capacidade humana de experimentar o prazer, a beleza, o desejo e a intimidade em profundidade. É a energia vital que se move no corpo, que desperta os sentidos, que faz a vida pulsar.
Segundo a psicanalista Esther Perel, autora de Erotic Intelligence, o erotismo é “a encarnação da imaginação, um jogo entre o desejo e o mistério”. Já o filósofo Georges Bataille dizia que o erotismo é uma “experiência de transgressão”, que nos leva a ultrapassar os limites impostos pelo medo, pela vergonha e pela culpa.
Quando passamos bem no nosso erotismo, ou seja, quando vivemos essa potência com presença, consciência e liberdade, deixamos de obedecer às expectativas sociais que aprisionam o corpo e o desejo. Saímos do automático. Paramos de fazer sexo para agradar, cumprir papel ou buscar validação. Passamos a viver a intimidade como expressão de verdade e conexão.
Sexualidade: um campo muito maior do que a penetração
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define sexualidade como:
“Um aspecto central do ser humano ao longo da vida, que engloba o sexo, as identidades e papéis de gênero, a orientação sexual, o erotismo, o prazer, a intimidade e a reprodução.”
Ou seja, sexualidade é sobre a forma como nos relacionamos conosco, com o outro e com o mundo. Está presente na forma como tocamos, como nos vestimos, como falamos, como respiramos. Está nos vínculos, nas emoções, na energia vital.
Reduzir sexualidade ao ato da penetração é um empobrecimento. Isso desconecta o indivíduo da totalidade da experiência. É por isso que muitos casais têm relações sexuais, mas não têm intimidade. Fazem amor com o corpo, mas não se tocam de verdade.
Obedecer a quem?
Quando não estamos conectados ao nosso erotismo, nos tornamos obedientes. Obedecemos:
• À moral religiosa que diz o que é “sujo” ou “proibido”
• À pornografia que ensina uma performance desconectada
• Aos modelos sociais de masculinidade e feminilidade que não contemplam a sensibilidade, a escuta e o afeto
• À ideia de que precisamos corresponder à expectativa do outro para sermos aceitos ou amados
Mas o erotismo consciente liberta. Ele nos ensina a reconhecer o que é nosso e o que nos foi imposto. Ele nos mostra que o prazer pode ser uma prática espiritual, um caminho de presença e escuta profunda.
O que significa “passar bem no erotismo”?
Passar bem no erotismo é:
• Se conhecer
• Saber o que te dá prazer (e o que não dá)
• Ter coragem de expressar seus desejos
• Viver o corpo como templo, não como objeto
• Cultivar presença, escuta e respeito nos encontros íntimos
• Integrar sua energia sexual com sua sensibilidade e sua verdade interior
Quando isso acontece, você deixa de obedecer ao medo, à vergonha e à culpa. Você se autoriza a ser quem é. E, como consequência, a sua sexualidade deixa de ser uma função para se tornar uma expressão da sua essência.
O erotismo como revolução silenciosa
A terapeuta e sexóloga Regina Navarro Lins afirma que “a liberdade sexual é uma das últimas fronteiras da liberdade humana”. E talvez por isso ela ainda assuste tanto.
Mas não se trata de libertinagem. Trata-se de reconhecer o seu corpo como território sagrado, e o seu prazer como caminho de reconexão com a vida. Quando você passa bem no seu erotismo, você acessa uma força interior que não cabe em rótulos ou submissões.
Você vive em liberdade.
E a liberdade não obedece.