Dizem que, em um futuro não tão distante, um homem liderava sua equipe durante a maior guerra silenciosa de todos os tempos: uma guerra cibernética.
Não havia tanques. nem tiros. O inimigo não era visível. A guerra era feita de informações, sobrecarga mental, vigilância constante, decisões urgentes. O campo de batalha não era o chão, era o cérebro.
Esse homem era um comandante. Respeitado. estratégico. Era ele quem mantinha todos firmes, focados, em prontidão. Mas por dentro… já estava gritado.
A guerra exigia mais do que força. Exigia hiperconsciência, resiliência, blindagem emocional. E ele não se permitia falhar, afinal, era o líder.
Um dia, com a garganta inflamada e a mente latejando, foi até o alojamento. Procurou o xarope que guardava para emergências. Ao pegar o frasco, percebeu: restavam apenas algumas gotas. O suficiente apenas para ele.
Mas, mesmo assim, chamou seus homens. Dividiu o que restava com todos. Não porque queria ser nobre. Mas porque não sabia fazer diferente, ele foi treinado a servir, mesmo vazio.
Naquela noite, não conseguiu dormir.
Na solidão daquele quarto escuro, com os sistemas da base ainda pulsando ao fundo, o comandante sentiu algo diferente: o silêncio não era mais um inimigo. pela primeira vez em muito tempo, escutou a própria respiração, entrecortada, ansiosa, como quem corre mesmo parado. de olhos abertos, no breu, ele percebeu que seu corpo já dava sinais havia dias, talvez semanas. a garganta fechada, a exaustão disfarçada de eficiência, a raiva contida que se misturava com a culpa por sentir. ali, naquela noite sem batalha externa, ele teve o maior confronto de todos: encarou o homem que havia se tornado para sustentar tudo à força, e o que estava perdendo de si nesse processo. entendeu que a verdadeira guerra não era contra os inimigos invisíveis da rede, mas contra o próprio hábito de se deixar por último.
Na manhã seguinte, ele estava lá. De pé. Postura firme. Olhar focado.
Mas algo tinha mudado.
Ele percebeu que continuar dando tudo sem se reabastecer era, pouco a pouco, apagar o próprio fogo. Entendeu que liderança sem escuta vira exaustão. E que o verdadeiro poder não está em aguentar tudo, mas em perceber quando o corpo pede trégua.
Ele não gritou. Não desabou. Não pediu socorro.
Mas decidiu, silenciosamente, começar a escutar a própria voz. E isso, para um homem como ele, já era uma revolução interna.
✧ Prática de autorregulação: “a voz que fica”
Uma prática curta para quem já deu demais, pensou por todos e esqueceu de si.
- Feche os olhos. respire fundo três vezes. Sinta sua respiração no corpo. Na garganta. no peito. no ventre.
- Coloque a mão na garganta. Pergunte-se: “o que estou calando para continuar funcionando?” “de onde eu tiro força quando não tem mais nada?”
- Agora leve a mão ao peito. Pergunte-se: “estou tentando merecer o respeito dos outros às custas de mim?” “quem cuida de mim quando eu cuido de todos?”
- Visualize um frasco de xarope dentro de você. Ele representa sua energia vital. Observe o quanto ainda tem. Se estiver quase vazio, veja-se reabastecendo com presença, verdade, descanso e limite.
- Finalize com essa frase em voz alta ou mentalmente: “hoje eu escolho me ouvir. não preciso mais esperar o colapso para cuidar de mim.”