O Rei e o espelho de fumaça

Havia um rei que vivia em um reino próspero, mas seu castelo era vazio. tinha terras, soldados, conselheiros e amantes. mas todas as noites, dormia inquieto, buscando em cada toque o que não conseguia nomear.

Esse rei não aceitava que seus súditos tivessem vontades próprias. amava as festas, desde que todos dançassem como ele esperava. se alguém saía do ritmo, ele se irritava, não pela dança, mas pelo descontrole que aquilo lhe causava.

Um dia, uma estrangeira chegou ao castelo. dançou livremente, sem pedir permissão. o rei se encantou. ela o olhava nos olhos, mas não se curvava. ele a desejava, mas também a temia. ela não pertencia a ninguém.

Ele tentou conquistá-la com presentes, promessas e planos. mas ela ria e dizia: “eu não vim ser tua. eu vim ser minha ao teu lado.” o rei não entendeu. se ela o amava, por que não se submetia?

Começou a questioná-la. exigia que ela explicasse seus passos, contasse seus pensamentos, previsse seus desejos. e ela, aos poucos, começou a sumir, não do castelo, mas da alma dele. porque liberdade não cabe em jaulas invisíveis.

Certa noite, o rei encontrou um espelho coberto por fumaça. era um espelho mágico. ele não mostrava o rosto de quem olhava, mas o reflexo da alma. e o rei viu um homem triste, inseguro e com medo de ser rejeitado.

Ele caiu de joelhos. chorou. e ali, pela primeira vez, enxergou a criança que ele foi: exigida, ignorada, solitária. aquela criança que aprendeu que controlar era a única forma de não ser abandonada.

No dia seguinte, o rei libertou suas partes que não reconhecia, soltou as amarras e mandou chamar a estrangeira. disse a ela: “agora eu te vejo. e, pela primeira vez, vejo a mim também.” ela sorriu. mas não ficou. porque ela nunca esteve ali para preenchê-lo. estava para despertá-lo.

O rei aprendeu, enfim, que o amor que prende não sustenta. que o afeto não se compra, não se exige, não se mede. e que o controle, quando não reconhecido, vira solidão.

Desde então, passou a governar diferente. permitindo que os outros fossem quem são. e descobrindo, em si, partes que nem sabia que existiam. o castelo se encheu. não de pessoas, mas de temperança.

E o espelho de fumaça, agora limpo, mostrava apenas o que era real: um homem inteiro, que não precisava mais se esconder.


Meditação guiada, integração da sombra e paz interior

Feche os olhos. Respire profundamente três vezes. Sinta o ar entrando… e saindo. Solte os ombros. solte o maxilar. solte o controle.

Agora imagine à sua frente um espelho embaçado. aproxime-se dele. aos poucos, a fumaça vai se dissipando… e uma imagem aparece. Não é o seu rosto. é uma parte de você que você tenta esconder, o ciúme, a cobrança, o orgulho, o medo.

Olhe nos olhos dessa parte. respire. Diga, mentalmente: “eu vejo você. tá tudo bem você ser assim. eu te reconheço. você me protegeu. mas eu não preciso mais lutar com você.”

Agora imagine essa parte se aproximando… e entrando no centro do seu peito. Você não precisa controlar. Você pode simplesmente sentir.

Fique alguns instantes nesse silêncio. Sinta o alívio de estar com você. De ser inteiro. E, no seu tempo… abra os olhos.

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