Entenda por que essa escolha relacional está mais ligada ao autoconhecimento do que à quantidade de parceiros
Quando se fala em não-monogamia, muita gente imagina que é só uma desculpa para “ficar com todo mundo sem compromisso”. Mas a verdade é bem diferente. A não-monogamia é, acima de tudo, uma escolha consciente sobre como viver os relacionamentos com mais liberdade, verdade e responsabilidade emocional. Não é sobre ter muitos parceiros — é sobre ter a si mesmo com mais presença e autenticidade.
Segundo a pesquisadora Jessica Fern, autora do livro Polysecure (2020), a não-monogamia ética é baseada em consentimento, comunicação honesta e acordos claros. Diferente da traição, que quebra a confiança, a não-monogamia é vivida com transparência. As pessoas envolvidas sabem dos vínculos umas das outras, e tudo é conversado abertamente. Isso exige um alto nível de maturidade emocional.
De acordo com um estudo da YouGov America (2020), cerca de 32% dos americanos disseram que o ideal de relacionamento para eles não é necessariamente monogâmico. No Brasil, uma pesquisa feita pela plataforma Swinger Social em parceria com a USP em 2022 mostrou que 28% dos entrevistados já se interessaram ou praticaram algum modelo não-monogâmico. E esses números crescem ano após ano, especialmente entre pessoas de 25 a 45 anos.
Mas o que isso tem a ver com se ter? Tudo. A não-monogamia coloca você de frente com suas próprias inseguranças, ciúmes, medos e crenças sobre amor e posse. Muitas vezes, somos ensinados a acreditar que amor verdadeiro só existe se for exclusivo, se o outro for “nosso”. A não-monogamia convida para outra visão: amar não é prender, é permitir. Permitir que o outro seja quem é, e você também.
Por exemplo, um casal pode escolher ter um relacionamento aberto onde ambos podem se relacionar com outras pessoas, desde que exista diálogo e respeito pelos acordos. Outro casal pode viver o poliamor, onde há mais de uma relação afetiva profunda ao mesmo tempo. Tem ainda quem pratica o relacionamento solo, priorizando o vínculo consigo antes de qualquer outra conexão. Em todos esses casos, o centro da relação não é o outro, é a própria verdade interior.
A psicóloga Meg-John Barker, pesquisadora da Open University (Reino Unido), defende que a não-monogamia saudável só é possível quando existe segurança emocional interna. Ou seja, quando a pessoa se conhece, sabe o que sente, o que precisa e consegue se comunicar de forma empática. Por isso, muitos especialistas dizem que quem escolhe esse caminho precisa estar disposto a fazer um trabalho profundo de autoconhecimento.
Também é importante dizer que a não-monogamia não é melhor ou pior que a monogamia. Ambas são formas válidas de amar. A diferença é que a não-monogamia quebra a ideia de que existe um único modelo certo de relacionamento. Ela diz: “Você pode construir um jeito de amar que faça sentido para você, desde que isso seja vivido com verdade e respeito.”
No fim das contas, a não-monogamia não é sobre ter “mais”, é sobre viver com mais presença, mais escuta e mais liberdade. É sobre se libertar da ideia de posse e se comprometer com algo mais real: a conexão genuína consigo e com os outros. Porque quando você se tem, de verdade, você não precisa que ninguém te complete — você escolhe compartilhar.