Era noite de sexta.
Um convite despretensioso,
num grupo onde amigos trocam segredos e vontades que a maioria jamais ousaria confessar.
— Vamos?
— Pra onde?
— Uma casa. Diferente.
— Fica de frente a um supermercado. Mas não se engane, lá dentro… tudo muda.
A fachada discreta me confundia.
Pensei: seria um bar comum? Uma boate alternativa? Um espaço de cabines?
Entrei.
O ar tinha cheiro de vinho seco, couro e luxúria contida.
As luzes baixas faziam cada sombra parecer um convite.
Um corredor comprido se abria à frente, com pequenas portas…
E atrás de algumas, o tal glory hole —
um orifício no escuro, por onde mãos e bocas exploram desconhecidos sem ver os rostos,
só os sons, os cheiros, os arrepios.
Conhecia essa prática, mas naquela noite, o que me chamava era algo mais…
Um cômodo escondido à direita me chamou pelo nome sem pronunciar sílaba:
um quarto de BDSM.
Paredes escuras. Um X de madeira no centro. Vermelho.
Como se dissesse: aqui, você pode tudo — se souber sentir.
Minhas mãos já coçavam.
Logo duas mulheres se ofereceram:
uma queria apanhar, a outra também.
Sorri.
Peguei o flog e, entre risos e gemidos, fui alternando:
um golpe de couro, um tapa de mão.
A pele delas corava, os olhos vibravam.
O quarto, minúsculo, parecia conter o mundo.
De repente, o som mudou.
Senti um calor familiar.
Era ele.
Aquele homem que tempos atrás me despertava —
mas eu não estava pronta.
Naquela noite, ele chegou com sede nos olhos e fome nos dedos.
Sem cerimônias, me puxou pela cintura, mordeu meu pescoço com um beijo quente,
e ao ver o X, sussurrou:
— Você gosta de apanhar, né?
— Muito, respondi.
— Então vem.
As palmas dele dançaram na minha pele com precisão.
Cada tapa era um pulso novo entre as pernas.
A gente se beijava como quem devora e se respeita ao mesmo tempo.
Ele, socorrista, tinha hora pra ir.
Mas antes disso…
Fomos para uma das cabines.
Ali, o mundo parou.
As paredes finas deixavam escapar os gemidos dos outros,
mas o que me ocupava era o ritmo dele,
o calor,
os tapas marcando tempo nas minhas coxas,
o som do nosso suor.
Ele se foi.
Eu fiquei. Vibrando.
Voltei pro quarto do X, continuei as brincadeiras.
As mulheres me olhavam com sede e admiração.
O ambiente já era nosso.
A noite seguia e o espumante celebrava a inauguração daquele templo do prazer.
E então…
Ela apareceu.
A esposa de um dos donos.
Olhos selvagens. Boca precisa.
Me beijou com desejo de quem já sabia o gosto.
Me levou para um quarto reservado.
Me despiu com o olhar, e com a boca, e com os dedos.
Entre nossos toques, eu sentia o sexo dela pulsar —
literalmente.
Ela tremia. Encolhia. Molhava.
Meu dedo explorava com entrega e reverência.
E ela… se abria.
Como flor noturna. Como segredo bem guardado.
Terminamos com um beijo triplo, daqueles que ficam na alma.
O corpo cansado. O coração inquieto.
Saí de lá com a pele ainda quente.
E um gosto de quero mais… até hoje entre as pernas com aquela memória.