Por que você diz querer amor mas se protege dele

Muitos homens dizem que querem relações leves, verdadeiras, com afeto genuíno e liberdade. Dizem que estão abertos. Que não querem cobranças. Que valorizam conexões reais. Mas, na prática, vivem frustrados. Reclamam que as pessoas não são transparentes. Que a mulher em quem ele confiou agiu diferente do que ele esperava. E se sentem traídos. Não porque houve de fato uma traição, mas porque as expectativas que criaram não foram atendidas.

Essa distância entre o que o homem diz querer e o que ele sustenta com as próprias ações tem um nome: incongruência. E a incongruência nasce no inconsciente, ou seja, em camadas da psique que ele mesmo ainda não consegue ver.

Segundo jung, psicanalista suíço que dedicou a vida a entender os conflitos da alma humana, aquilo que nos incomoda no outro costuma ser o reflexo de algo não resolvido dentro de nós. Quando um homem se irrita com a liberdade da mulher que dança com ele e depois se afasta, ou com o fato de ela não ter avisado que já se relaciona com alguém, o incômodo que ele sente nem sempre é por causa da atitude dela. É porque ele foi tocado por algo que ele mesmo esconde de si: o medo de não ter controle.

Esse medo se disfarça de justiça. Ele diz: “Ela deveria ter me falado”. “Ela foi incoerente.” “Ela me iludiu.” Mas a verdade é que ele está exigindo um tipo de transparência que nem ele ofereceu primeiro. A mulher não tem bola de cristal. E ele, em nenhum momento, deixou claro que precisava dessa informação. O que está doendo não é a omissão dela, é a ilusão dele.

Essa ilusão nasce da sombra, um conceito junguiano que representa tudo aquilo que você não quer ver em si. São as partes que você rejeitou, que aprendeu a esconder para ser aceito. No caso de muitos homens, a sombra inclui o medo da rejeição, a carência afetiva, a insegurança e a necessidade de controle.

Quando essas partes não são reconhecidas, elas não desaparecem. Elas se manifestam disfarçadas. O homem que diz querer uma mulher livre, por exemplo, muitas vezes exige que ela diga tudo, que seja previsível, que reforce a cada passo que gosta dele. Ele chama isso de sinceridade, mas, no fundo, é controle emocional travestido de amor.

E por que isso acontece? Porque, na infância, muitos homens não foram emocionalmente acolhidos. Tiveram que prever o humor dos pais, esconder sentimentos, parecer fortes. Aprenderam que prever é sobreviver. Cresceram com a crença de que, se tiverem tudo sob controle, ninguém os abandonará.

Só que o amor verdadeiro não nasce do controle. Ele nasce da confiança. E a confiança só existe onde há liberdade. Não há como amar alguém que você tenta moldar. E não há como ser amado se você precisa prever o outro o tempo todo.

Na não-monogamia, isso fica ainda mais evidente. Não existe entrega real se o outro precisa te pedir autorização para ser quem é. Não existe afeto verdadeiro onde só você se sente no direito de ser livre, mas exige exclusividade emocional do outro. Esse tipo de relação não é liberdade, é uma prisão disfarçada de escolha.

Alguns homens dizem: “Mas eu só quero que a pessoa seja sincera comigo.” Mas, muitas vezes, o que eles chamam de sinceridade é, na verdade, uma tentativa inconsciente de evitar o desconforto da imprevisibilidade. A verdade é que não há como exigir sinceridade absoluta de alguém se você mesmo não está disposto a lidar com o que ela pode revelar.

E aqui mora o ponto central: não há problema em desejar controle. O problema é não reconhecer que ele existe. Você pode querer uma relação mais estruturada, pode preferir mulheres mais submissas, pode ter valores mais tradicionais. E está tudo certo com isso, se for uma escolha consciente. Mas não diga que busca liberdade emocional se o que você quer, de fato, é segurança absoluta.

A dor surge justamente quando há incoerência entre o desejo e a estrutura interna. Quando você busca uma relação livre, mas se irrita com a autonomia do outro. Quando diz querer afeto genuíno, mas impõe provas e testes. Quando espera entrega, mas esconde seus próprios limites e vulnerabilidades. O sofrimento vem da não congruência.

Ser congruente não é ser perfeito. É ser honesto consigo mesmo. É reconhecer: “Essa parte de mim quer controlar.” “Essa outra sente ciúme.” “Essa aqui sente medo.” Quando você olha para isso com verdade, você para de exigir que o outro te salve da sua própria insegurança.

Muitos homens também se incomodam com outros homens que vivem de forma mais espontânea, mais solta, mais verdadeira. Criticam. Julgam. Mas, na verdade, estão vendo no outro aquilo que ainda não conseguiram permitir em si. Esse é o espelho da sombra. Aquilo que você condena no outro pode ser exatamente o que você mais deseja, mas não admite.

A solução está em parar de projetar. Em vez de esperar que o outro preencha o que você não sustenta, olhe para dentro. Pergunte a si mesmo: “Que tipo de relação eu realmente quero?” “Quais aspectos em mim ainda não reconheço?” “Será que o afeto que eu busco é compatível com o tipo de presença que eu ofereço?”

Quando você começa a olhar para essas perguntas com sinceridade, algo muda. A raiva diminui. A frustração dá espaço à compaixão. O desejo por controle dá lugar à presença. E, aos poucos, o amor deixa de ser uma ameaça, porque você deixa de se proteger dele.

Agora, para tornar isso ainda mais vivo em você, leia a parábola a seguir. E depois… experimente sentir.

Meditação Guiada | Integração da Sombra e Paz Interior

Feche os olhos. Respire profundamente três vezes. Sinta o ar entrando… e saindo. Solte os ombros. Solte o maxilar. Solte o controle.

Agora imagine à sua frente um espelho embaçado. Aproxime-se dele. Aos poucos, a fumaça vai se dissipando… e uma imagem aparece. Não é o seu rosto. É uma parte de você que você tenta esconder, o ciúme, a cobrança, o orgulho, o medo.

Olhe nos olhos dessa parte. Respire. Diga, mentalmente: “Eu vejo você. Tá tudo bem você ser assim. Eu te reconheço. Você me protegeu. Mas eu não preciso mais lutar com você.”

Agora imagine essa parte se aproximando… e entrando no centro do seu peito. Você não precisa controlar. Você pode simplesmente sentir.

Fique alguns instantes nesse silêncio. Sinta o alívio de estar com você. De ser inteiro. E, no seu tempo… abra os olhos.

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