Não é comum vermos pessoas falando sobre essa energia tão poderosa e fundamental da natureza humana. Muito mais do que instinto de reprodução e perpetuação da espécie, sua influência vai além do ato físico da reprodução.
A energia erótica, chamada também por alguns especialistas de energia sexual, pode parecer um conceito restrito à esfera íntima e privada, mas sua verdadeira natureza é vasta e complexa.
Ela permeia todos os aspectos da nossa existência, com reflexos na vitalidade, criatividade, emoções, instintos e até na conexão espiritual. Sabendo ativá-la e direcioná-la para todos os aspectos da sua vida faz com que consigamos acessar nosso máximo potencial.
Wilhelm Reich, um dos pioneiros no estudo da sexualidade humana, via a energia erótica como uma força vital que, quando bloqueada, podia causar desequilíbrios físicos e emocionais.
Carl Jung, por sua vez, considerava essa energia como um aspecto essencial do processo de individuação, integrando o consciente e o inconsciente.
Assim como o próprio conceito de energia erótica é multifacetado, nossa compreensão e expressão dessa energia estão intimamente ligadas a cinco consciências fundamentais, nessa ordem: espiritual, racional, emocional, física e instintiva. Cada uma dessas dimensões representa uma parte essencial do nosso ser, e a harmonização delas é crucial para alcançar um estado de equilíbrio e plenitude.
Quando compreendemos como essa energia se manifesta e influencia cada uma das cinco consciências, passamos por uma transformação.
Entendemos que a busca espiritual, o cuidado com o corpo, a reflexão racional, a gestão das emoções, e a expressão dos instintos se entrelaçam, formando um todo integrado e coerente. Através dessa jornada, aprendemos a desbloquear e direcionar a energia erótica de maneira saudável e consciente.
Sei que o assunto ainda é um tabu para muitas pessoas, porém é por meio dessa energia muito além do prazer, que podemos nos guiar rumo ao autoconhecimento e à realização pessoal.
Ao explorar as cinco consciências, descobrimos como essa poderosa força pode ser a chave para uma vida mais vibrante, equilibrada e significativa e assim ativar o seu maior poder.
As consciências
Ao longo da jornada humana, a busca por autoconhecimento e bem-estar integral se revela como uma travessia essencial. No âmago dessa viagem, encontramos as cinco consciências e cada uma delas representa uma dimensão vital do nosso ser, e sua harmonização é a chave para uma vida plena e autêntica.
Ao permear essas consciências em profundidade, há uma perspectiva abrangente sobre como integrá-las em nossa existência cotidiana, fundamentando-se nos ensinamentos de Aristóteles, Wilhelm Reich e Carl Jung.
Consciência Espiritual
Quantas vezes já te perguntaram qual era o seu propósito de vida?
A resposta está na consciência espiritual. É aquilo que nos dá sentido para querer acordar todos os dias e viver com prazer.
Ela nos conecta com algo maior do que nós mesmos, seja através da religião, da filosofia, da natureza, de uma prática pessoal de espiritualidade ou de algo muito maior que nós mesmos e nos move com autenticidade.
Carl Jung via a espiritualidade como uma parte importante da psiquê humana, ou seja, de como pensamos e sentimos.
Ele introduziu o conceito de Self, que é como o centro do nosso ser, núcleo central da personalidade que busca a totalidade e a integração. Segundo Jung, encontrar esse Self é como se reconectar com algo especial dentro de nós, ajudando a viver de um jeito mais feliz e verdadeiro.
Descobrir o propósito de vida é um dos aspectos mais profundos dessa consciência. Perguntar “o que realmente me move?” pode abrir caminhos para uma vida mais significativa e alinhada com nossos valores e paixões.
O propósito de vida é a bússola que nos orienta, dando direção e sentido às nossas ações e decisões.
Além disso, a prática da espiritualidade é olhar para dentro de nós e para isso é importante nos conectarmos com nossa essência e com o universo ao nosso redor e isso pode envolver meditação, oração, contemplação ou qualquer atividade que nos conecte com nossa “alma”, com o que realmente é verdade para a nossa existência, sem qualquer conteúdo ou padrão que possa ter sido “injetado” na nossa mente ao longo da nossa existência.
A espiritualidade nos ajuda a cultivar a paz interior, a gratidão e a compaixão, promovendo um senso de unidade e interconexão com todas as formas de vida.
Reflita como tem tratado da sua consciência espiritual, a sua verdadeira essência.
- Ela está conectada com o seu propósito de vida?
- A vida tem feito sentido para você ou você vive ocupando seu tempo com excesso de afazeres, buscando preencher um vazio existencial e nem tinha percebido isso?
Consciência Racional
A consciência racional é a dimensão da mente, dos pensamentos e das crenças. É através dela que interpretamos e damos sentido às nossas experiências. Nossos pensamentos moldam nossa realidade, e as crenças que sustentamos podem nos empoderar ou nos limitar.
Aristóteles via a racionalidade como a característica distintiva do ser humano, fundamental para alcançar a virtude. Ele argumentava que a razão nos permite distinguir o que eu defendo ser os pensamentos disfuncionais da realidade para tomarmos decisões alinhadas com a busca pela excelência moral ou virtude ética, que é o estado de caráter que nos permite realizar boas ações de maneira consistente e voluntária.
É a escolha e ação correta que se situa no meio-termo entre dois extremos viciosos: o excesso e a deficiência. Para ele, a virtude era um hábito adquirido através da prática racional, resultando em uma vida equilibrada e harmoniosa.
A auto investigação é uma ferramenta poderosa para desenvolver a consciência racional. Questionar nossas crenças, identificar padrões de pensamento negativos e substituí-los por outras histórias contadas que podemos criar a partir da realidade apresentada, ou seja, são as famosas afirmações positivas que dizem os coachees e que podem transformar a percepção de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.
Além disso, cultivar o hábito da reflexão crítica nos permite tomar decisões mais conscientes e alinhadas com nossos valores.
Os valores são um componente central da consciência racional. Eles são os princípios que guiam nossas ações e escolhas. Clarificar nossos valores e viver de acordo com eles nos proporciona um senso de propósito e integridade. Quando nossas ações estão alinhadas com nossos valores, sentimos uma profunda coerência interna e uma sensação de realização.
Consciência Física
A consciência física diz respeito ao corpo, à saúde e, claro, ao bem-estar físico. Segundo Wilhelm Reich, as couraças emocionais são tensões musculares crônicas que bloqueiam a energia vital, que é a força universal que sustenta a vida e a saúde, afetando tanto a saúde física quanto emocional.
Ele defendia que a liberação dessas couraças, através de técnicas específicas, podia restaurar o fluxo de energia e promover a cura. Práticas como a massagem terapêutica, o alongamento, movimentos e a respiração consciente são eficazes para liberar essas tensões, permitindo que a energia flua livremente pelo corpo.
Aristóteles também enfatizava a importância do cuidado com o corpo como parte da busca pela virtude e pelo bem-estar. Ele acreditava que a saúde física era essencial para a Eudaimonia, ou seja, a realização plena da potencialidade humana.
Alimentação adequada, exercícios físicos regulares e descanso são elementos fundamentais para manter o corpo saudável e, consequentemente, a mente clara e focada.
Além disso, os neurotransmissores desempenham um papel crucial na nossa sensação de bem-estar. Substâncias como a serotonina, a dopamina e a endorfina influenciam nosso humor e nossa motivação. Entender como nosso estilo de vida e nossas escolhas diárias impactam essas químicas cerebrais pode nos ajudar a manter um estado de espírito positivo e equilibrado.
Daí termos a consciência de que o corpo é o veículo através do qual experienciamos o mundo, e cuidar dele é fundamental para a nossa vitalidade e energia.
Reflita sobre como você tem cuidado do seu corpo, de como se alimenta, dos momentos de lazer para o seu bem-estar geral.
Consciência Emocional
Escutar as emoções permite-nos desenvolver essa consciência. Cada emoção traz uma mensagem sobre nossas necessidades e desejos.
A raiva, por exemplo, pode indicar que um limite foi ultrapassado, enquanto a tristeza pode sinalizar uma perda ou uma necessidade de reconexão.
O medo nos traz informações do melhor percurso para seguirmos na nossa jornada de forma segura e leve.
E a alegria existe para celebramos momentos que nos traz significado para nos mantermos vivos e buscar experimentar o prazer que é ter vida humana, pois o ser humano possui a capacidade de sentir, ou seja, de experienciar emoções, empatia e compaixão, o que nos conecta e nos diferencia como seres únicos.
Ao prestar atenção às nossas emoções e às suas causas, podemos responder a elas de maneira mais eficaz e construtiva, auxiliando na regulação do corpo. Observe que as doenças são sinais de que as emoções não estão sendo sentidas ou são ignoradas.
Carl Jung enfatizava a importância da integração das emoções no processo de individuação, o caminho para se tornar um ser completo e autêntico.
Ele acreditava que a repressão emocional poderia levar a uma dissociação entre a consciência e o inconsciente, resultando em sintomas psicológicos e físicos. Por isso, encorajava a escuta ativa das emoções e a expressão criativa como meios para integrar o inconsciente e promover a saúde emocional. Parece complexo? Mas como nas outras consciências é uma construção.
A prática da autorregulação emocional envolve encontrar maneiras saudáveis de sentir emoções só que para isso recomendo respeitar três regras:
1) Não se machuque!
2) Não machuque outra pessoa!
3) Não destrua o ambiente!
E como fazer isso? Como lidar com a raiva? Com o ciúme? E a ansiedade tão descontrolada em nossos dias?
Ao sentir a emoção no nosso corpo precisamos refletir como não nos machucarmos e muito menos outras pessoas e o ambiente à nossa volta.
A raiva é importante de ser sentida no corpo e expressar ela socando o travesseiro com o antebraço ou gritando com uma toalha na boca para os vizinhos não acharem que existe uma pessoa maluca no prédio é uma boa sugestão.
Imagine que você está com ciúmes de alguém. O que faz nessa situação? Primitivamente seria natural agredirmos quem está provocando isso em nós ou ainda sentirmos que a culpa é nossa. Porém há outras saídas entender que essa emoção traz informações muito mais relacionada a nós do que sobre a outra pessoa.
Eu defino o ciúme como uma mistura de medo de perder a pessoa, com raiva do fato de não conseguir lidar com a situação, com inveja por não estar no lugar da pessoa que está ganhando mais atenção do que eu gostaria de ganhar ou até tristeza de pensar que tudo isso me faz sentir uma pessoa fraca.
Ademais disso, a ansiedade também é uma resposta a situações de incertezas e estresse e nos assola o tempo todo nesse mundo onde o fazer e o ter é muito mais importante do que o ser e o sentir.
Exercite apreciar a jornada em vez de já querer colher o resultado. O plano estratégico da vida já é um bom começo para utilizar da ansiedade como aliada para criarmos os melhores cenários, atuar de maneira estratégica e aprendermos a aguardar o fluxo do tempo.
A meditação, a contemplação, a respiração profunda, a escrita terapêutica, o ócio criativo ou o exercício físico são excelentes ferramentas. Também é útil cultivar a empatia, tanto consigo mesmo quanto com os outros. A empatia nos permite entender e validar as emoções alheias, fortalecendo nossas conexões interpessoais e promovendo um ambiente de apoio e compreensão.
Assim, a consciência emocional é a capacidade de reconhecer, compreender e expressar as emoções. Quando aprendemos a lidar com elas de maneira saudável atingimos o amadurecimento emocional e consequente bem-estar.
Consciência Instintiva
A consciência instintiva refere-se aos nossos impulsos naturais e às respostas inatas do corpo. Ela engloba nossos instintos de sobrevivência, bem como nossas necessidades e desejos primários, neste caso escolho dizer, desejos autênticos.
No contexto da sexualidade quando consciente, a consciência instintiva é especialmente relevante, pois nos ajuda a compreender e explorar nossos desejos mais profundos de maneira saudável e consensual.
Ocorre que falar sobre sexualidade ainda é um estigma na nossa sociedade porque a Igreja Católica por séculos controlou a sexualidade porque acreditava que isso ajudava a manter a ordem e a moral na sociedade, pois a Igreja via o corpo e seus desejos como algo que podia afastar as pessoas de Deus e do comportamento que consideravam correto.
Wilhelm Reich explorou profundamente a relação entre a sexualidade e a saúde mental, afirmando que a repressão dos instintos sexuais podia levar a bloqueios energéticos e psicológicos. Reich defendia que a liberação dessa energia, através da vivência plena da sexualidade, era crucial para o bem-estar.
Os instintos de excitação são uma parte fundamental dessa consciência. Eles são respostas automáticas do corpo a estímulos que percebemos como excitantes ou atraentes e isso não necessariamente precisa estar relacionado ao ato sexual. Um exemplo disso está na gastronomia. Imagine-se saboreando aquele prato que te dá água na boca.
Entender as fases da excitação, desde o desejo inicial até a satisfação, pode nos ajudar a ter maior consciência e alegria na própria experiência de viver. Ademais disso, viver desejos autênticos e cultivar uma sexualidade consciente, incluindo fetiches e fantasias, também faz parte dessa dimensão.
Mapear e entender esses impulsos, permite uma expressão mais autêntica e satisfatória da nossa energia erótica, só que essa consciência só será vivida com autenticidade quando estiver alinhada com as demais anteriores ou sempre estará em picos de vergonha, medo, culpa, raiva, tristeza ou até compulsão ao assumir o lado mais selvagem e instintivo sem consciência.
A expressão “consciência” instintiva pode parecer contraditória à primeira vista, já que os instintos são geralmente considerados respostas automáticas e não conscientes. No entanto, a expressão pode ser entendida como a capacidade de reconhecer, aceitar e integrar nossos impulsos primitivos de maneira saudável.
Assim, ao olhar para a consciência instintiva é se permitir viver desejos autênticos e usar dessa energia em outros aspectos da vida. Dessa forma, dará o espaço para alinhar todas as consciências e viver uma vida plena, próspera e autêntica.
Integrando as cinco consciências
Como você leu, as consciências não estão sozinhas. Aliás, nada nesse universo é só. Formamos um conjunto perfeito. Nesse cenário, a verdadeira transformação ocorre quando conseguimos integrar essas cinco consciências na vida diária. Cada uma delas contribui para o nosso bem-estar de maneira única, e juntas, elas formam uma base sólida para uma existência equilibrada e plena.
A integração começa com a consciência espiritual que nos conecta com nossa a nossa essência, a nossa alma, o que existe de mais puro em nós, a centelha divina que existe dentro de cada um, com nosso propósito maior, dando sentido e direção à nossa vida. Ela só é acessada verdadeiramente quando se consegue sentir totalmente desconectada da consciência racional, pois se esta for processada primeiro ela “mente”, isto mesmo, a mente engana todas as outras consciências.
Te convido a agradecer sua mente por tudo que ela te proporcionou até o dia de hoje e diga para ela que neste momento você escolhe que ela se cale para que você acessa o que realmente vem da sua matriz existencial, do lado mais profundo do seu ser.
A partir de então as respostar que você precisa ter virão. Quando as respostas forem acessadas faça um compilado de tudo, pois quando você voltar a se conectar com as demais consciências você poderá esquecer.
Por conseguinte, adquirimos a consciência física, cuidando do corpo e garantindo que ele esteja bem, pois se estiver debilitado e sem energia afetará negativamente as demais consciências que ativam circuitos e estratégias de sobrevivências em vez de buscar seguir a verdade do ser.
Em seguida, desenvolvemos a consciência racional, questionando pensamentos disfuncionais, examinando nossa mente e ajustando nossas crenças e atitudes ao que aprendemos com a nossa matriz existencial para que nossos comportamentos diários tenham significados reais e alinhados ao que é mais genuíno no nosso ser.
A consciência emocional nos permite a autorregulação, porque envolve o reconhecimento, compreensão e gerenciamento de nossas próprias emoções evitando desequilíbrio físico e mental.
Por fim, a consciência instintiva acessada de maneira saudável e em harmonia com as demais consciências nos permite viver desejos autênticos de forma satisfatória trazendo empoderamento, amor-próprio, aceitação mútua, pois consequentemente o corpo envia mais informações e neurotransmissores de bem-estar e a pessoa que se permite viver aquilo que é autentico e verdadeiro para si e deixa de preocupar-se com expectativas externas, começa a desenvolver suas capacidades e potencialidades ao máximo em todos os aspectos de sua vida, pois conseguiu olhar para uma das partes mais “criticada” do seu ser, e tudo faz parte com já dizia Jung.
O que você tem feito por você?
A verdadeira transformação começa dentro de nós. É um processo contínuo de autodescoberta e crescimento, e cada passo nessa jornada nos aproxima mais da nossa verdadeira essência. A energia erótica é vida!
Em todo esse espectro, devemos abraçar e nutrir nossas consciências espiritual, física, racional, emocional, instintiva, desbloqueando nosso maior poder a fim de sermos plenos, capazes de viver com integridade, propósito e alegria.
A jornada não é linear nem fácil, mas é profundamente gratificante e essencial para alcançar a vida que realmente desejamos ativando o nosso maior poder.
E a reflexão que deixo aqui é: o que você tem feito por você? Você tem cuidado da sua energia ou tem entregado seu poder para pessoas e situações que só de impedem de acessar seu maior potencial?
Te convido a cuidar da sua energia erótica, reflita sobre as suas cinco consciências e sinta-se à vontade para pedir ajuda nessa jornada.