A parábola do redemoinho que não me levou porque eu despertei

A água chegou sem aviso.

Não era tempestade. Não era ameaça. Era um chamado.

Primeiro, um sussurro molhando os pés. Depois, um rugido arrancando certezas, invadindo estruturas, desmontando tudo o que era fixo, rígido, previsível.

Eu, e outros homens que juravam estar em terra firme, fomos tomados por essa força líquida, viva, ancestral.

Um grupo inteiro foi arrastado.

Corpos se chocavam. Medos se confundiam. E a ilusão de controle se partia como vidro fino.

Era como se o mundo dissesse:

“você até conquistou poder… mas nunca teve domínio sobre as águas da sua alma.”

Então veio a queda.

Uma cachoeira. Imensa. Assustadoramente bela. Sem tempo para pensar. Só cair. Desabar. Ruir.

Acreditei que seria o fim. mas no fundo, algo sussurrava que ainda havia saída.

Caímos num poço profundo. E no centro dele, girava um redemoinho.

Não era qualquer redemoinho. Era um vórtice escuro, denso, magnético. Com a força de tudo o que foi negado. Com a voz de tudo o que ficou preso.

E ele dizia, silenciosamente:

“se você resistir, eu te engulo. Mas se você sentir, verá a saída.”

O medo veio. O coração disparou. O instinto assumiu.

Algo, que nenhum deles sabia que existia, emergiu.

Um deles respirou. Sentiu. E apontou:

“o redemoinho só traga quem está desconectado de si. Nadem juntos. Pela lateral. No fluxo. não contra ele.”

E foi assim.

Não com força. Não com pressa. Mas com presença.

Um a um, eles atravessaram. Não para escapar da água, mas para emergir daquilo que os afogava por dentro.

Quando voltaram à terra, molhados, exaustos, esvaziados de certezas…

Não celebraram. Eles compreenderam.

Aquela água não veio matá-los. Veio despir. Veio lembrar.

Sobre a finitude de tudo. Sobre a mentira do controle. Sobre a única coisa que ninguém pode tirar:

A verdade de quem você é… quando nada mais te sustenta.


O que essa parábola revela

Essa história fala sobre o instante em que a vida te arrasta, e você percebe que lutar só te afunda mais.

A enchente representa aquilo que você não controla: crises, emoções, perdas, verdades que transbordam. A cachoeira é o colapso inevitável quando você insiste em manter a pose enquanto tudo pede rendição. O redemoinho é o ponto central do medo, o lugar onde o ego se dissolve, onde a performance já não serve, onde você só tem uma escolha: sentir.

Mas também é ali que a saída aparece.

Não por cima. nem por baixo. Por dentro.

É o corpo que sabe. É a respiração que ancora. É a escuta que guia.

É quando você para de se defender da vida, e começa a se relacionar com ela.


Meditação guiada: a água que revela o centro

Feche os olhos. Respire profundamente. Sinta… você dentro de um rio.

A água envolve seu corpo. É morna. suave. acolhedora. Você está boiando, leve, entregue. Seu corpo solto. sua mente repousa.

Por um instante, tudo é calma.

Mas, sem aviso, o fluxo muda. As águas começam a correr mais rápido. O som fica mais intenso. A correnteza te leva.

Você não tem mais controle. O medo vem. o corpo endurece. Você tenta resistir… Mas algo em você sussurra:

“não é uma ameaça. é um chamado.”

À frente, você escuta um novo som, mais forte, mais grave. É como um rugido. Você percebe: há uma queda. Uma cachoeira.

Você não consegue parar. E então… cai.

Sinta a força da água te empurrando para baixo. O corpo despenca, mas não se perde. Você não está quebrando. está se abrindo.

Você atravessa a queda. A água despenca com você, e algo em você se desfaz na descida.

Lá embaixo, tudo silencia. Você está submerso… Mas vivo.

Agora, você chega ao fundo: um poço profundo. Escuro. misterioso. E no centro dele… um redemoinho gira.

Você observa. Sente a força que puxa. Mas percebe: Ele só engole quem resiste.

Você solta. Você sente. Você flutua.

Inspire. Expire. Permaneça.

Visualize agora uma abertura suave se revelando na lateral do poço. Ela não aparece com força. Ela surge com escuta.

Você começa a nadar… Não com pressa. Mas com presença.

Você desliza pela lateral. Com confiança. Com verdade.

Ao alcançar a borda, coloque as mãos sobre o peito. Sinta o pulso da vida que ainda vibra em você. Sinta a força que ficou. Sinta a inteireza que renasceu.

E diga a si mesmo:

“mesmo quando tudo tenta me arrastar, eu me lembro de quem sou. Eu sou terra firme por dentro.”

Respire mais uma vez. Mais fundo. mais leve. E, quando estiver pronto…

Abra os olhos.

Você voltou. Não apenas à superfície, mas a si mesmo.

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