Nos conhecemos por um aplicativo.
Mas nada nele era comum.
Havia algo naquele homem que atravessava a tela.
O tamanho impunha. A presença parava.
Mas foi o olhar que me prendeu: havia uma mansidão quase infantil, escondida atrás da brutalidade de quem já tinha carregado o mundo nas costas.
Ele sorria com os olhos.
E isso, por si só, já era uma promessa.
Quis me ver logo no primeiro dia.
Disse que estava curioso.
Mas meu corpo ainda não confiava.
Respondi com gargalhadas de emoji.
Ele entendeu. Se afastou.
No dia seguinte, voltou.
Insistiu.
Eu não cedi.
Mas algo em mim já havia sido tocado.
No sábado à noite, eu estava sem planos.
As horas passavam lentas, e meu corpo ansiava por algo que não sabia nomear.
Mandei uma mensagem.
Ele disse que estava com a filha — uma menininha de três anos —, mas que talvez, depois das dez da noite, pudesse me ver.
A noite caiu.
E com ela, caiu também a resposta.
Silêncio.
Acreditava que tinha adormecido junto da filha, ao colocá-la para dormir.
E eu, já com o corpo aceso e a alma em brasa, escolhi outro caminho.
Me vesti como quem se despe.
Coloquei um vestido preto de couro, perfume nas minhas melhores partes do corpo e uma leveza atrevida no coração.
Fui a um clube de swing — não pra encontrar ninguém, mas pra me permitir ser a mim, sem julgamentos.
Era noite de rock.
E eu queria dançar com a minha própria liberdade.
Dançar com a raba até o chão, com os olhos fechados, com a alma solta e sem pudor.
Não fui pra caçar.
Fui pra ser.
Dois gin-tônicas depois, o mundo era só som e pulsão.
Meu corpo vibrava, a pele suava, os olhos riam.
Voltei pra casa tarde, satisfeita de mim.
No domingo, ele reapareceu.
Disse que havia dormido.
Pediu desculpas.
Conversamos pouco, mas algo nele ainda me chamava.
Mais tarde, vi que alguns amigos estavam em um barzinho à beira-mar.
O céu derramava tons de rosa no horizonte, e um chorinho suave preenchia o ar como se o mundo estivesse em expansão.
Levei minha manta vermelha de baby alpaca — um mimo que trouxe do Peru.
O espumante gelado, o frio gostoso e a música no ar criavam uma cena que eu queria guardar pra sempre.
Mandei uma mensagem.
Disse onde estava.
Ele respondeu que estava com a filha, mas que passaria lá só para me ver.
E ele veio.
Lá fora, parado dentro da caminhonete, ele me esperava.
Dentro do carro, a filha brincava.
Quando me viu, sorriu.
Os olhos… os olhos falaram por ele.
Aproximei-me devagar.
Toquei a lataria do carro, e ele tocou minha mão.
O toque era firme, quente, presente.
Meu corpo respondeu antes da mente entender.
Nos despedimos com um silêncio cheio de promessas.
Pouco depois, uma mensagem:
— Você sentiu tesão?
Respirei fundo.
Respondi:
— Senti.
— Quer ir pra um motel?
Disse que sim. Mas antes, um pagode com minha amiga.
Uma hora e meia depois, ele foi me buscar.
Deixamos minha amiga em casa.
E seguimos. Só nós dois.
Um silêncio denso nos acompanhava.
Mas ali dentro… algo já fervia.
No quarto, fui beijá-lo e senti uma rigidez.
Cada gesto parecia ensaiado.
Beijos certos. Toques corretos.
Mas vazios.
Meu corpo recuava.
Minha alma apertava.
Ele era grande demais por fora — e obscuro por dentro.
Estava ali… mas não estava comigo.
Pedi que parasse.
— Assim, não dá.
Ele me olhou. Pela primeira vez, verdadeiramente me olhou.
Perguntei:
— Você quer receber um carinho?
Ele disse que sim.
E ali começou o ritual.
Deitei-o de bruços, como quem prepara o altar de um deus adormecido.
Comecei pelos pés, com as pontas dos dedos dançando em círculos lentos.
Subi pelos tornozelos, panturrilhas, coxas.
Contornei a virilha com beijos suspensos, deixando o desejo crescer sem ser atendido.
Toquei o peito, percorri os braços, segurei sua mão com firmeza.
Beijei a barba, a nuca, os cabelos.
Ele fechou os olhos.
E respirou.
Pela primeira vez, ele soltou o peso.
Seu cheiro me atravessava.
Era parecido com o perfume do meu pai.
Me trouxe desconforto e acolhimento ao mesmo tempo.
Fiquei ali por mais de meia hora, permitindo que ele se entregasse ao receber.
Quando me vesti e disse que iria embora, ele me segurou com um pedido mudo.
Deitei sobre ele.
Ele me envolveu com o próprio corpo.
Depois, virou-se e ficou sobre mim.
Grande, pesado, quente.
Era como ser sufocada por um vulcão — e querer arder mais um pouco.
Ele começou a roçar em mim.
Mordia minhas costas.
E eu sussurrava baixo, molhada, entregue.
Me virou de quatro. Depois de frente.
Me tomou com força.
Havia algo bruto nele. Quase sádico.
Mas havia também uma ternura escondida.
Um menino que queria dominar o mundo com o corpo,
mas que só queria colo com os olhos.
Ele apertava meus seios com intensidade.
Puxava meus mamilos.
E quando ultrapassava o meu limite, eu dizia:
— Assim não. Diminui.
E ele me ouvia.
Gozou com os dedos dentro de mim, se masturbando.
Eu tremia. Ele arfava.
Na porta do meu prédio, ele quebrou o silêncio.
Falou da filha.
Da separação.
De um pedaço dele que ainda doía.
Ali, pela primeira vez, ele não era o bruto.
Era o homem que tentava — entre o silêncio e o suor — se encontrar.
Nos despedimos.
E não nos vimos mais.